
eu consigo lembrar do cheiro de sujeira do carpete antigo. A cor amarronzada não me dizia muito sobre seu nível de limpeza. o apartamento estava fechado há um tempo. me pergunto o que aquelas paredes já tinham visto. será que elas estavam horrorizadas com a cena a sua frente?
eu ficava imóvel, mantinha a mão perto do rosto pra aliviar um pouco a textura áspera do tapete. às vezes eu as mantinha largados do lado do meu corpo como se estivesse morta.
eu me sentia um pouco morta, o peso que me mantinha prensada no chão era sufocante. era um caixão sem paredes.
eu lembro da respiração ofegante dele.
lembro de como ele procurava minha orelha para assegurar minha presença. às vezes eu forçava meu quadril contra o dele e ele gemia. achava tão ridículo, tão fácil. eu estava morta e mesmo assim fazia ele sentir algo.
me sentia um animal preso. ele era meu caçador e eu sua presa mais fácil.
eventualmente o peso sumia. mas não antes dele deixar a gravidade nos unir depois de gozar. às vezes eu achava que ia sufocar. acho que queria.
qualquer coisa era melhor do que aquele cheiro.